quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Diz que disse



Diz que houve, no colégio, uma sessão sobre nutrição para todo o primeiro ciclo.

Diz que o Tiago participou activamente no período destinado a perguntas e respostas. Diz que uma das perguntas que fez foi quanta água devíamos beber por dia. Diz que após a confirmação de que temos de beber mesmo muita água, levantou o braço no ar e disse bem alto: 
“Eu bem digo ao meu avô para beber água, mas ele só bebe vinho!”

Diz que toda a plateia soltou uma valente gargalhada. 

Diz que o avô diz que isto não vai ficar assim.




quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Yes, we collect!



Chove torrencialmente. Estou estacionada à porta do colégio à espera dos rapazes. A Té já está comigo. Pergunta o que trouxe para o lanche. Passo-lhe a lancheira. Sorri ao ver uma garrafinha de compal essencial kids. Não pelo compal kids (que é o irmão que bebe) mas pela garrafinha que lhe falta na sua colecção de garrafinhas de compal kids. Além dos clássicos cromos, a minha filha colecciona tudo o que se possa imaginar. “Mamã, não deites fora que é para a minha colecção” é algo que ouço quase todas as vezes que abro a tampa do nosso balde do lixo reciclável. Tampinhas, garrafas plásticas, etiquetas de roupa, panfletos, catálogos, palhinhas, saquinhas de papel, tudo é alvo da sua necessidade de acumulação de bens inúteis.

Os rapazes chegam, despejam as tralhas na mala e entram para o banco de trás. Antes que eu tenha tempo de perguntar como correu o dia, a Té já está a obrigar o Tommy a beber o compal kids.

“Então meninos? Esses testes?”

“Bem.”

“E os resultados do concurso de cálculo mental, Tiago?”

Pelo retrovisor vejo o seu sorriso rasgado a transbordar alegria pelo espaço sem dentes.

“Ganhei!”

“Boa miúdo! Qual foi o prémio desta vez? Troféu, medalha ou diploma?”

“Diploma. Dou-to em casa. Pões numa moldura, como os outros?”

“Sim, claro. Na casa nova vamos ter de arranjar uma parede só para os vossos diplomas.”

A Té não quer saber nem do teste de ciências do Tommy, nem do teste de Inglês do Ti e muito menos dos resultados do concurso de cálculo mental. Quer mostrar que já tem a garrafinha do feiticeiro. O Tommy esforça-se (com pouco sucesso, diga-se) por aparentar algum interesse na colecção da irmã. Eu digo-lhes que no meu tempo também fazíamos colecções. Conto-lhes que fazia colecção de latas e tinha mais de quinhentas.

O Tommy, que já mergulhou no Clash of Clans, desgruda momentaneamente os olhos do telefone  e exclama:

“Latas?! Latas de Coca-cola e assim?”

“Yep.”

“Quinhentas? Todas diferentes?”

Os olhos da Té brilham. Ainda não se tinha lembrado de começar a juntar latas.

O Ti está sério. Vejo na sua expressão que não compreende este entusiasmo coleccionista. Levanta o braço no ar, como se estivesse a pedir permissão para falar na sala de aula.

“Só uma coisa… qual é o interesse de fazer colecção de garrafas, latas ou tampas se não servem para nada? Eu já decidi, vou fazer colecção de prémios.”

Isto de coleccionar prémios não é para quem quer, é para quem pode mas algo me diz que o rapaz se arrisca a ter uma rica colecção.