terça-feira, 6 de dezembro de 2016

tricot



A Teresinha está feliz com os primeiros cinco centímetros do seu primeiro trabalho de tricot. Eu estou radiante. Não que não me orgulhe do facto de a minha filha saber a diferença entre um 4-4-2 e um 4-3-3, ser capaz de fazer a finta do Quaresma, a finta do Ronaldo e a finta do Neymar mas sinto que já merecia vê-la dedicada a uma actividade mais menineira. 

"Achas que está bem mãe?" 

"Está óptimo meu amor. Aprendeste num instante." 

"Tu aprendeste quando tinhas a minha idade?"

"Sim, e olha que tive bem mais dificuldade para começar a fazer os pontos certinhos."

"Quem te ensinou?"

"A minha mãe, tua avó."

"E quem ensinou a avó?" 

"A sua mãe, a tua bisavó."

"E a bisavó? Aprendeu com a sua mãe?"

Imagino que sim.

"E..."

Antes que continue, porque eu sei como isto (não) vai acabar até chegar ao início dos tempos, adianto-me:

"O tricot faz-se há muito, muito tempo. Antes de haver máquinas de costura as roupas tinham de ser todas feitas à mão."

"Mas, as primeiras pessoas, mãe..."

"Que primeiras pessoas, filha?"

"A primeira pessoa a fazer, aprendeu como?"

"Oh, Té... sei lá, descobriu sozinha como se fazia..."

Olha-me com uma expressão desconfiada. Não está satisfeita com a teoria. Encolho os ombros. Pergunto-lhe se não quer colar cromos da bola na caderneta. Ela diz que sim. Ao pousar a malha no cesto sorri triunfante: 

"Já sei como descobriu! Foi ao Youtube."