"Mamã... quando todas as pessoas do mundo morrerem nascem
novas pessoas, não é?"
Pergunto-me porque estará a minha filha
a questionar a continuidade da espécie humana. Respondo-lhe com um:
"Todos os dias morrem e nascem
pessoas para que o mundo nunca fique sem gente."
Sorri, satisfeita.
“Morrem as pessoas que estão muito velhinhas e nascem bebés, não é
mamã?”
Aceno afirmativamente. Ela sabe que eu sei que ela sabe que não é
preciso ser muito velhinho para partir. Eu sei que ela fica contente quando eu
digo que vamos todos durar muito tempo mesmo sabendo que ambas sabemos
que a longevidade não é garantida para ninguém. Mas mais vale morrer amanhã
convencido que de que se vai viver cem anos do que viver cem anos a achar que
se vai morrer amanhã.
“Mamã, quando tu fores muito, muito velhinha…”
“…tu já vais ser entradota.”
Ri-se.
“Já vais ter filhos e netos.”
Franze o sobrolho. Imagino que tenha alguma dificuldade em se
ver no papel de “avó Teresa”.
“Já sabes quantos filhos vais ter?”
Levanta no ar a mão que tem livre (a outra está ocupada com duas fatias
de pão de forma) e estica os deditos. O médio e o anelar estão amarrados a uma
tala pelo que, à vista, só há três. Finjo-me confundida:
“Não sei bem quantos dedos contam nessa mão…”
“Cinco.”
“Cinco filhos?!”
Olha atentamente para a mão. Polegar, indicador, tala, mindinho.
“Quatro, mamã. É melhor contar só quatro.”
“Muito bem. Já vi que vou ter muitos netinhos. E como é que eles
se vão chamar?”
“Isso ainda não dá para dizer. Mas já te posso dizer quem vai ser
o pai.”
Fiquei assim a saber que o H. vai ser o pai dos meus netos. Não
sei se o “avô André” vai achar graça à conversa. Vale o facto de o H. ser
do Fcp. Ambas sabemos que isso faz TODA a diferença.