A Teresinha está feliz com os primeiros cinco centímetros do seu primeiro trabalho de tricot. Eu estou radiante. Não que não me orgulhe do facto de a minha filha saber a diferença entre um 4-4-2 e um 4-3-3, ser capaz de fazer a finta do Quaresma, a finta do Ronaldo e a finta do Neymar mas sinto que já merecia vê-la dedicada a uma actividade mais menineira.
"Achas que está bem mãe?"
"Está óptimo meu amor. Aprendeste num instante."
"Tu aprendeste quando tinhas a minha idade?"
"Sim, e olha que tive bem mais dificuldade para começar a fazer os pontos certinhos."
"Quem te ensinou?"
"A minha mãe, tua avó."
"E quem ensinou a avó?"
"A sua mãe, a tua bisavó."
"E a bisavó? Aprendeu com a sua mãe?"
Imagino que sim.
"E..."
Antes que continue, porque eu sei como isto (não) vai acabar até chegar ao início dos tempos, adianto-me:
"O tricot faz-se há muito, muito tempo. Antes de haver máquinas de costura as roupas tinham de ser todas feitas à mão."
"Mas, as primeiras pessoas, mãe..."
"Que primeiras pessoas, filha?"
"A primeira pessoa a fazer, aprendeu como?"
"Oh, Té... sei lá, descobriu sozinha como se fazia..."
Olha-me com uma expressão desconfiada. Não está satisfeita com a teoria. Encolho os ombros. Pergunto-lhe se não quer colar cromos da bola na caderneta. Ela diz que sim. Ao pousar a malha no cesto sorri triunfante:
"Já sei como descobriu! Foi ao Youtube."