A minha falta de interesse por jogos de consola prende-se
principalmente com o facto de qualquer chimpanzé bem treinado fazer melhor
figura do que eu com um comando na mão. Se tivesse jeito (e tempo) não tenho
dúvidas que seria uma aficionada. Entendo o fascínio dos miúdos perante este
universo e não sou fundamentalista em relação a isso. Resmungo quando acho que
estão a jogar há tempo a mais? Claro. Eles ouvem-me? Às vezes.
Se pudesse banir alguns jogos de lá de casa, os escolhidos seriam
os de guerra. Faz-me confusão ver um miúdo de 10 anos a jogar Call of Duty pela
mesma razão pela qual não o levo a ver um filme do Tarantino. Mas os jogos lá
estão e os dois meninos mais crescidos (André e Tomás, entenda-se) não
prescindem deles. A única regra que consegui estabelecer foi que os banhos de
sangue são proibidos na presença do Tiago e da Teresinha.
Há dias ouvi anunciar no ´Falar Global' uma entrevista com o
Eduardo Sá acerca da influencia dos jogos violentos nas crianças e jovens. Não
tenho especial simpatia pelo Eduardo Sá... aquele sorriso seráfico e aquela
postura de quem consegue manter a calma no-matter-what (mais ou menos na onda
do pai do Ruca) enervam-me um bocadinho. Tenho, no entanto, que admitir que o
senhor diz umas coisas acertadas pelo que achei que seria uma óptima
oportunidade para mostrar ao Tomás os malefícios daquele
tipo de jogos:
“Tommy!! Vem cá ouvir isto!!!"
O Tomás entra na cozinha, a passo arrastado, encosta-se ao balcão
e fita a televisão sem uma réstia de entusiasmo.
"...os jogos não levam necessariamente a
comportamentos violentos... gostava que as pessoas percebessem que a
agressividade é um equipamento de base da natureza humana e portanto faz bem à
saúde..."
Noto um leve sorriso do tipo
não-era-bem-isto-que-estavas-a-espera-que-ele-dissesse...
"...temos de aprender a ser agressivos com maneiras e
quanto menos nós brincamos com a agressividade mais violentos nos tornamos...
os jogos são uma forma lúdica de ao brincarem com
a violência a esvaziarem da sua componente mais
destrutiva...sem agressividade ninguém cresce."
O meu filho está agora interessadíssimo e não desgruda os olhos da
televisão.
"... ao jogar eles estão a esticar o cérebro. Se pudesse
tornava os jogos um bocadinho obrigatórios..."
"Como se chama este senhor mãe?"
"Eduardo Sá..."
"Gosto dele."
O Eduardo Sá, continua, numa espiral pró-jogo que deita por terra
qualquer argumento que eu tente encontrar:
"Quanto mais jogos melhor. Joguem por favor. Não é
tornem-se compulsivas a jogar, é joguem por favor. Depois os pais que tenham
enfim a decência de exercer a sua autoridade para dizer já chega."
Finalmente um ponto a meu favor, penso. Mas o homem contra-ataca:
"Brincar é obrigatório, todos os dias. Elevando a
provocação ao limite: aquela fórmula que faz regra em muitas famílias do género
´Primeiro os trabalhos de casa e depois brincar´devia ser exactamente ao
contrário."
"Ouviste esta mãe?"
"Ouvi meu querido. Já podes ir."
Ele não vai, claro. E ainda ouve:
"Primeiro brinca, brinca, brinca. Depois, meia hora para
fazer os trabalhos de casa é o quanto baste para que tudo corra bem. E, se
neste brincar todo estiverem jogos de computador, não vejo mal nenhum, muito
pelo contrário."
O Tomás sorri, feliz, agradece-me a atenção de o ter chamado e sai
a correr da cozinha.
"Paaaaai, vamos jogar Black Ops?"
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