sábado, 12 de abril de 2014

Anna



Hora de dormir. Estão no nosso quarto, a ver o Frozen, mais uma vez.

"Meninos, vamos lá desligar a televisão."

"Só mais cinco minutos, mãe. Está quase a acabar."

A Té, tentando enganar o sono que teima em aparecer,  arregala os seus olhitos gigantes e exclama:

"Eu quia sê a Anna!..."

Pego-lhe ao colo e deixo-me ficar a ver a cena final. Percebo-a. A Anna é destemida, bonita e divertida. Um encanto de princesa num encanto de filme.

O Ti encolhe os ombros e resmunga:

"Não querias nada ser a Anna."

"Quia, quia."

"Não querias, sabes porquê?"

Conheço aquela expressão de estou-aqui-para-te-mostrar-as-verdades-que-têm-de-ser-encaradas. Respiro fundo e preparo-me para o que vai sair dali. Ele dá  meia volta na cama e, antes de afundar a cabeça na almofada, explica calma e impiedosamente:


"Teresa, se tu fosses a Anna ias ter uma série de proglemas na tua vida. Ias cair de um cavalo. Ias ter uma irmã muito complicada. Ias ficar sem pai e sem mãe. Ias ter de escalar uma montanha gelada sem fato de neve. Pensa bem. Tu não querias ser a Anna. Boa noite."

Sem comentários:

Enviar um comentário