Hora de dormir. Estão no nosso quarto, a ver o
Frozen, mais uma vez.
"Meninos, vamos lá desligar a televisão."
"Só mais cinco minutos, mãe. Está quase a
acabar."
A Té, tentando enganar o sono que teima em
aparecer, arregala os seus olhitos
gigantes e exclama:
"Eu quia sê a Anna!..."
Pego-lhe ao colo e deixo-me ficar a ver a cena final. Percebo-a.
A Anna é destemida, bonita e divertida. Um encanto de princesa num encanto de
filme.
O Ti encolhe os ombros e resmunga:
"Não querias nada ser a Anna."
"Quia, quia."
"Não querias, sabes porquê?"
Conheço aquela expressão de estou-aqui-para-te-mostrar-as-verdades-que-têm-de-ser-encaradas.
Respiro fundo e preparo-me para o que vai sair dali. Ele dá meia volta na cama e, antes de afundar a
cabeça na almofada, explica calma e impiedosamente:
"Teresa, se tu fosses a Anna ias ter uma série de
proglemas na tua vida. Ias cair de um cavalo. Ias ter uma irmã muito complicada. Ias ficar sem pai e sem mãe. Ias
ter de escalar uma montanha gelada sem fato de neve. Pensa bem. Tu não querias
ser a Anna. Boa noite."
Sem comentários:
Enviar um comentário