A noite está amena. Ouvem-se ao longe as ondas a desmaiar lentamente
no areal. O aroma a peixe grelhado flutua por entre as ruas estreitas de calçada.
Os meninos já despacharam um robalo cada um. Eu que estive até agora, em
contra-relógio, a separar as espinhas dos robalos dos meninos, preparo-me para atacar,
finalmente, o meu jantar.
Olho as horas para confirmar quanto nos falta para apanhar o
shuttle do Sr.Texugo. Há tempo. Bebo um gole de sangria. Respiro fundo. A vida
pode ser maravilhosa.
Ainda não comi a primeira garfada quando uns pingos de chuva me
despertam do meu sonho numa noite de verão. O Ti parece ler o pânico nos meus
olhos e entre duas amêijoas, que roubou à carne de porco à alentejana dos avós,
pergunta:
“No sítio para onde vão ver os concertos há tejadilho?”
O Tommy ri e explica-lhe que não, não há tejadilhos nos festivais.
“A sério? Avó, tens sorte por poder ficar connosco no hotel. A mãe, o pai e o avô
têm mesmo de ir. Se ao menos não tivessem reservado o lugar no autocarro… agora
não há nada a fazer. Que grande azar.”
Lá fomos. A chuva deixou a Herdade do Cabeço da Flauta pouco antes
de chegarmos ao recinto. Sem necessidade de tejadilho vi, ouvi, mais do que tudo senti as quase
três horas de espectáculo do (sempre grande) Eddie Vedder. Tocou o
Masters of War, o You've got to hide your love away, o Black e até, pela primeira vez ao vivo, o Imagine. Que tivesse chovido a cântaros. Tinha sido
épico na mesma. A vida é maravilhosa.
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