Após cento e cinquenta "falta muito para chegarmos?"
estacionamos em frente à recepção. O André vai tratar do check in enquanto eu
fico com o gang junto à carrinha. Discutem, como de costume, mas eu não me
importo de tão inebriada que estou com este ar quente e este cheirinho a verão
que só o algarve tem.
"Chegámos? É aqui a nossa casa? Qual
é a nossa? É perto da piscina?"
"Não sabemos, o pai já vê, no mapa do
aldeamento."
O pai aproxima-se e estende-me o dito do
mapa. Observo a folha A4 onde está traçada uma linha com início no ponto em que
nos encontramos e com fim... no limite da folha. O André franze o sobrolho e
estende-me uma segunda folha... a continuação do mapa. Boa, estamos nos
confins.
"Então, já sabemos qual é a nossa
casa? Mostrem, mostrem!"
O André não mostra. Agarra nos papeis e
volta para dentro.
"Onde vais André?"
"Trocar a casa."
Os miúdos correm atrás, confusos.
"Vais trocar a casa porquê pai? Ainda
nem a vimos!"
Sento-me no sofá da recepção e faço por
distraí-los com uns panfletos de aquaparques enquanto o André fala com um
funcionário que está com cara de quem não nos vai fazer favor nenhum. Vejo o
homem abanar a cabeça. Ouço-o dizer que, pelo menos hoje, é impossível. Amanhã,
talvez.
Aproximo-me.
"Vamos lá ver, André. Pode ser que
não seja assim tão longe."
"Joana, olha para o mapa. É a milhas
da entrada. Não vai dar para ir a pé para a praia."
Observo a bela da maquete gigante que está
ao lado do balcão. Olho o mapa e tento encontrar a nossa localização na
maquete. O nosso edifico está para lá, muito para lá dos limites urbanizados da
representação 3D. A maquete representa a fase I e nós fomos parar à fase III.
Não há cheirinho de algarve que me anime neste momento.
O funcionário da recepção força um
sorriso:
"Podem sempre vir de carro até aqui e
depois seguem a pé..."
Forço um sorriso de volta e despeço-me.
"Meninos, entrem no carro. Vamos ver
a casa!"
É longe, efectivamente. Longe o suficiente
para nos encorajar a descarregar e carregar as tralhas duas vezes em menos de
24h.
"Então mãe? É esta a nossa casa ou
não?"
"Hoje é esta. Amanhã mudamos para
outra."
"Mas eu gosto desta!"
"A outra é igual."
"Se é igual porque é que vamos mudar?
Gosto desta. Prefiro ficar aqui."
Vinte horas e cento e cinquenta "não
quero mudar" depois estamos a descarregar as malas na nova casa.
"É aqui mae? É esta a nossa?"
"Sim. É aqui. Igual à outra. Num
sítio bem melhor. Mais, esta tem jardim. Um bocadinho inclinado, mas dá para
brincar. Venham ver o jardim."
A Té corre pela relva abaixo.
"Cuidado miúda, não caias. Vem para
dentro vestir o fato de banho."
Volta entusiasmada.
"Gostas do jardim Té?"
"Góto muito do jardim porque é a
descer... e tamém é a subir!"