O alarme do telemóvel toca no exacto momento em que me preparo
para começar o exame de Análise Matemática II. Suspiro de alívio. Tacteio a
cabeceira da cama em busca do aparelho buzinante e carrego no snooze. Enfio a
cabeça na almofada e caio no sono. Estou num palacete Arte Nova a fugir de um
urso panda quando o alarme me salva mais uma vez. Volto a premir o snooze mesmo
correndo o risco de ir parar à base de um vulcão em erupção. Levanto-me, a
custo, ao quinto ou sexto toque. Está frio. Olho as horas. É tarde! Enfio uma camisola
de lã por cima do pijama e disparo para o quarto do Tommy.
“Acorda! Acorda! Já passa das sete e meia! Tens aqui a roupa.
Veste-te rápido. Se não nos despachamos chegamos outra vez atrasados! Vou
chamar os teus irmãos!”
“Mãe…”
“Sim, filho.”
“Não está um bocado escuro demais para sete e meia?...”
Está escuro, é um facto, mas amanhece tarde nesta altura do ano.
Raio da hora de inverno, não me consigo habituar a ela. Encosto o nariz ao
vidro gelado. Não se vêem carros na rua. Isso já é estranho. Agarro o telefone
do rapaz que está pousado na secretária. Ele tem razão. Está escuro para sete e
meia pois ainda faltam quase duas horas para as sete e meia.
“Volta para a cama. Desculpa ter-te acordado.”
Dou-lhe um beijo na testa, apago a luz e corro de volta para o
aconchego dos lençóis. Acerto as horas do meu telefone e, antes de mergulhar numa
longa-metragem digna de uma matiné do Fantasporto, prometo a mim mesma não voltar
a adiantar o relógio em troca de um punhado de vidas no CandyCrush.