Domingo de sol e calor. Estamos na Figueira, no jardim, a jogar
basket. Melhor, o Tommy e o pai jogam basket. Encestam “sem espinhas” como diz
o Tiago que, apesar de não ter grande fama no que toca a dotes desportivos, lá
vai acertando de quando em
vez. A Té , que enverga, inexplicavelmente, um boné gigante,
uma capa de chuva e uma mala ao ombro, posiciona-se debaixo do cesto só para
criar o já obrigatório ambiente de conflito. Eu limito-me a fazer figura de
ursa por duas ou três vezes até ser dispensada por incapacidade evidente.
O Ti lesiona-se e parte para a garagem em busca de algo com que se
entreter. Surge passados uns minutos com uma lata de tinta na mão. Antes que tenha
oportunidade de o alertar já há uma mancha negra na parede da casa.
“Tiago!... Vê só o disparate que fizeste!”
“Desculpa mãe, estava só a
experimentar… acho que o avô vai ficar muito aborrecido…”
Corre para casa e regressa com uma pega de cozinha com a qual
tenta, em vão, limpar a parede. Arranco-lhe a pega suja de tinta da mão:
“Agora parece-me que, além do avô, também vais ter a avó zangada
contigo.”
O avô surge, apaziguador e diz-lhe para não se consumir, que vai
resolver o assunto.
O Ti mantém-se com a lata em punho:
“Posso pintar o chão?”
“Não.”
“Então esta tinta não serve para nada?!?”
“Serviu, por exemplo, para pintar a tua cama.”
Vira costas, porta adentro, novamente. Ouço-o dizer para si:
“Não me parece grande ideia, mas posso tentar.”
Não o tivesse eu interceptado e teriam passado a existir mais
móveis pretos lá por casa.
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