Cá em casa, sopa, só se for passada e sem verdes. Não interessa o
que lá ponho dentro desde que o resultado seja um creme amarelinho. Espinafres,
agriões e ervilhas estão vetados sob pena dum “Mãe... não gosto desta sopa…
porque é que fizeste sopa VERDE?”
Podia ser um problema generalizado com o verde, mas não. No que
toca a doçarias, o bolo de eleição é qual? Bolo de chocolate? Bolo de iogurte?
Bolo de laranja (amarelinho como a sopa)? Não. O bolo preferido é verde. Verde,
do mais verde que se possa imaginar. Tão verde que parece estar carregadinho de
corante. E porque é que é tão verde? Porque é feito com um grande molho de
espinafres ou agriões. Verdes. Verdíssimos. Odiados na sopa, adorados quando
misturados com açúcar, farinha e ovos. Dá para perceber? Não, mas há muito que
desisti de tentar entender algumas das estranhas opções da minha prole.
Terça feira. Oito da noite. Entro em casa e sou cumprimentada com
um:
"Mãããe! Podes fazer bolo verde? Por favooor..."
"Posso. Um destes dias."
"Hoje!"
"Hoje? Nem pensar. É tardíssimo e ainda tenho de tratar do
jantar."
"O pai disse que podias..."
"Jura..."
"Podes?"
"Não tenho espinafres."
"O pai disse que ias buscar num instante ao
Supermercado."
O André, que está sentado no sofá, contempla o infinito de modo a
se desviar do meu olhar fulminante.
"A Té vai compá com a mãe e vai ajudá a fazê os quéque."
"Afinal querem bolo ou queques?"
"Queques!" – respondem em uníssono, pai incluído.
Boa. Dezenas de forminhas para encher com a ajuda da Té...
Estou tão cansada que nem consigo argumentar. Meto o jantar
no forno e parto em busca dos espinafres.
Já passa das onze quando terminamos a última fornada de queques
verdes. Atiram-se a eles como se não comessem há dois dias.
"Parem de comer, por amor de Deus... faz-vos mal."
"Mal? São de espinafres, mãe! Fazem muito bem. Podemos comer
mais um?"
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