Cá por casa, as idas para a cama são uma luta na qual já me dei
por vencida. Se em tempo de escola se deitam a horas impróprias, nas férias têm
horários que fazem corar de vergonha qualquer pai minimamente sensato.
“Ti… acorda! São quase nove da manhã… a mãe tem de ir trabalhar.”
Vira-se para o outro lado e tapa a cabeça com o lençol. Dirijo-me
a paragens mais fáceis.
“Tommy… acorda. Veste-te rápido para ires comer os cereais. Vou
acordar a tua irmã.”
Encontro a Té num sono profundo, enroscadíssima, com a cabeça
virada para o fundo da cama. Pego-lhe ao colo a levo-a até à casa de banho. Choraminga
assim que abro a torneira do lavatório.
“Vamos lá acordar, pequenina…”
“Não qué!”
“Deixa pentear o cabelo…”
“Não qué!”
“Té… a mãe está atrasada… tens de te vestir…”
“Não qué!”
Ao pousar a escova no balcão dou um ligeiro toque numa lata de
espuma que, após duas ou três oscilações, sem que eu tenha reflexos rápidos o
suficiente para o impedir, aterra na sanita.
“Bolas. Que azar!”
A Té dá uma gargalhada e corre para a sala para contar ao irmão que
a espuma da mãe caiu à sanita. Eu preciso de café para acordar e perder o mau
humor matinal. Aos meus filhos basta que eu faça um disparate.
Volto ao quarto do Tiago. Destapo-o e puxo-lhe as pernas para fora
da cama. Senta-se e começa a desabotoar o pijama. Olha-me de soslaio,
por entre as farripas de cabelo desgrenhado, e diz:
“Faltou-te a palavra passe.”
“?”
“Sim, a palavra passe para eu acordar rápido. 5987b.”
“Ah sim? Não sabia dessa.”
Levanta-se e começa a caminhar para a porta.
“Também tens palavra passe para lavar os dentes rápido?”
“Claro, mas hoje não vai ser preciso. Já vi que estás com pressa e
não quero que te ‘inrites’. Depois escrevo-te as palavras passe num papel para
que não te esqueças.”
Sigo aquela versão robotizada de filho até garantir que está a
lavar a cara. Deixo-lhe uns calções e uma t-shirt e vou tomar o meu café. 5987b.
Esta já decorei.
Sem comentários:
Enviar um comentário