domingo, 20 de outubro de 2013

Raios...



A manhã está cinzenta e húmida. O ar pesado parece anunciar trovoada... o Ti está sentado ao meu lado a olhar para o céu. Desde que ficou com o encargo de marcar no calendário da sala de aula o dia e o estado do tempo anda muito atento aos fenómenos meteorológicos.

"Mãe, acho que hoje vai trovejar. No nosso calendário trovoada é o pior antes de neve. Não percebo porquê. Neve é muito mais giro que trovoada. Porque é que há raios no céu quando há trovoada?"

"São descargas eléctricas atmosféricas. As nuvens descarregam energia."

"Para poupar luz?"

Rio-me e aceno-lhe negativamente. Olho para o relógio e depois para mais-infinito. A enxaqueca está a matar-me.

"Mãe, uma pessoa pode ser atingida na cabeça por um raio?"

"Não é muito conveniente..."

"Mas pode, ou não pode?"

"É altamente improvável."

"É improvável ou impossível?"

"A que propósito é que te lembraste dessa hipótese, meu querido?"

"O pai falou..."

Boa, se foi o pai que puxou o assunto, o pai que resolva a coisa. A mim já me bastou o transe com Tsunamis em relação aos quais ainda tinha a safa de poder dizer que não acontecem em Portugal. Respiro fundo e sorrio-lhe:

"Quando chegarmos a casa perguntas ao pai."

"O pai já foi atingido por um raio?"

"Não."

"E tu?"

"Também não."

"Alguém já foi?"

"Talvez..."

"E o que é que lhe aconteceu?"

Não, não podemos entrar por aí... tento arrumar o assunto de novo:

"Não te preocupes. Há pára-raios no cimo dos prédios que atraem os relâmpagos."

"E se estivermos numa rua sem prédios? Podemos ser atingidos?"

"Não vai acontecer."

"Mas podia...não podia?"

Olho para o relógio mais uma vez na esperança que o fim da aula de natação da Té me salve da conversa...

"Vamos para dentro, buscar a tua irmã."

"Há pára-raios no telhado da natação?"

"Ainda nem está a trovejar, rapaz. Não penses mais nisso."

"E no carro? Podemos ser atingidos?"

"E se fôssemos ao McDonalds?"

Remédio santo. Nada como um happymeal para lhe fazer 'reset' à maior das preocupações.

Tudo muito bem até ao serão quando, por mal dos meus pecados, anunciam no jornal da noite que um carro em Odivelas foi destruído por um raio.

"Mãe!!"

"Já ouvi... vai falar com o teu pai!"


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