Jantar no McDonalds com os mais novos. O Ti observa, com um ar
repugnado, a minha McSalada enquanto chafurda uma batata frita em ketchup. O seu
conceito de ‘dipping chips’ é mais ‘sinking chips’ mas, como só agora despertou
para o prazer do ketchup, eu faço que não vejo.
“Não sei como consegues comer essas folhas todas, mãe…”
“Não adoro, mas tem de ser.”
“Pois é, para não ficares demasiado gorda.”
“Sim, e além disso é muito mais saudável.”
“Se as pessoas comerem muita comida saudável ficam muito magras?”
Rio-me.
“Ficam?”
“Não, necessariamente. Mas ficam, pelo menos, com mais saúde. Ora
vamos lá ver se os meninos conhecem os alimentos que estão na minha salada…”
Espeto um pedaço de espinafre com o garfo e elevo-o no ar:
“Esta é uma folha de…”
“’Ávere’!” – responde prontamente a Té.
“Não. Não é de árvore, é de…”
“Espinafre!” – corrige o Ti.
A Té franze o sobrolho e cruza os braços:
“Eu ‘acetei’. Não disse ‘ávere’. Disse ‘nafre’. Não ‘óviram’ ‘dieito’…”
Antes que se peguem à pancada passo à cenoura, depois ao atum, ao
milho, ao ananás e por aí adiante. Vão ponto os bracitos no ar como se
estivessem na escola e, sem aguardar autorização, gritam em uníssono os nomes
dos ingredientes que lhes vou mostrando.
Finda a listagem exaustiva dos itens da minha salada, tento mostrar-lhes
que os seus happy meals não são, de todo, uma refeição equilibrada:
“Olhem bem para os vossos tabuleiros e descubram o que falta aí.”
O Ti ergue mais uma vez um braço:
“Legumes!”
“Muito bem! Mas há outra coisa muito importante que também falta…”
Desta vez é a Té a primeira a responder:
“Um iPad!”