Véspera de
Natal. Duas da tarde e estamos prontos para arrancar para a Figueira. Sinto-me
como se já fossem oito da noite. Já fui a Vila do Conde debaixo de um dos
maiores temporais de que tenho memória, já passei em casa dos meus pais, já
embrulhei os últimos presentes, já fui à
Fnac (ir à Fnac num 24 de Dezembro tira alguns anos de vida ao mais paciente
dos mortais... eu, que de paciente e equilibrada tenho pouco, perdi no mínimo uma
década), já fiz a mala, já preparei as
crianças, já consegui encaixar os presentes no carro, já pus água e comida à gata, já dei de comer aos peixes, já desliguei luzes, televisões e aquecimento.
O André não vai acreditar quando chegar da fábrica e perceber que podemos
partir imediatamente.
Os meninos
estão histéricos. Não vêem a hora de sair porta fora. Fosse Natal todos os dias e
chegávamos sempre a tempo ao Colégio.
"Está
tudo preparado?"
"O pai
demora muito?"
"Já só
faltam dez horas para abrir os presentes!"
A vibração é
tanta que até a mala parece tremer. Não parece, está mesmo a tremer. Mau...
ando nervosa mas não ao ponto de começar a ver objectos a mexer. Aproximo-me
lentamente. Sinto um leve batido... bate
leve, levemente como quem chama por mim... será chuva, será gente? Gente não é
certamente (a mala é grande mas não tanto) e a chuva não bate dentro de malas. Vou
ver. Abro os trincos e eis que salta disparada a Glória. Raio de gata que não
aprende a deixar de se enfiar onde não deve. Não tivesse eu sentido a tremedeira
e tinha vindo também, espalmada no meio das nossas belas roupinhas de dia de
Natal. Gato espalmado de espaços apertados tem medo. Pode ser que desta vez tenha
aprendido a lição. Ou não. Partimos e deixámo-la entretida com a árvore de
Natal. Costumo ficar doida quando a vejo sacar bolas. Hoje não me incomodou. O
espírito deste dia torna-me mais branda. E antes uma árvore desfeita do que uma
gata sufocada.
Um bom Natal para todos! Até para ti, Glorinha.
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