A Té descobriu há tempos que gosta de canja de galinha e está
convencida de que encontrou a solução ideal e definitiva para deixar de comer
sopa. Cada vez que lhe apresento um prato de sopa agarra a
colher na vertical, bate com o cabo na mesa e reclama: "Não góto de sopa.
Não qué sopa! Qué canja!".
Já lhe tentei explicar, sem grande
sucesso, que a canja não faz a vez da sopa, mas, sejamos justos: não é fácil
para uma menina de três anos perceber como é que algo que se come quando não há
sopa, num prato de sopa e com uma colher de sopa, não
faz per-fei-ta-men-te a vez da sopa.
Anteontem prometi que ontem haveria canja
em vez de sopa ao jantar. Falhei a promessa. Antes que batesse com a colher na
mesa, avisei:
“Amanhã comes canja. Vou chegar tarde mas
peço à Maria João para fazer, ok?”
“De ceteza?”
“Sim, não me esqueço. Vou deixar-lhe um
bilhete na cozinha.”
“Eu axudo a fazê o biête.”
“Eu também!” – diz o Ti, aproveitando para
se escapar da mesa (e da sopa) em busca de papel e lápis.
Sentamo-nos no chão.
“Ti, dá-me o papel para eu escrever.”
“Não, mãe. A Teresa dita e eu escrevo. Tu
ficas a ver se eu estou a escrever bem.”
Uma infinidade de tempo e vários rascunhos depois, terminámos o simpático pedido que colocámos, bem à vista, em cima da fruteira.
Hoje, à chegada do colégio, a Té corre ao encontro da Maria João e aponta para o papel:
“Miajoão, vite o nosso biête?”
A Maria João finge não ter reparado no bilhete. Ergue-o ao nível do seu metro e oitenta de altura, lê-o e
exclama dramaticamente:
“Oh, minha nossa!... Queriam que fizesse
canja? Não fiz. E agora?”
A Té, esmagada pela desilusão, apresenta o desfecho se lhe afigura óbvio:
“Agora a mamã vai dáte uma pámada. E eu vou
comê sopa.”
Sem comentários:
Enviar um comentário