segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

so last century, so what?



O Ti está a jogar Wii. O Tommy está a jogar Xbox. A Té passeia-se entre eles e as televisões numa atitude de ‘estou-aqui-para-vos-importunar-agora-e-para-todo-o-sempre’.

Eu estou sentada em frente ao computador a tentar aceder a um tal de ‘ZONOnline’ que permite, supostamente, ver televisão… que saudades do tempo em que as televisões serviam para ver televisão e os computadores para trabalhar e jogar videojogos…

Quando chego ao site verifico que me faltam duas ‘palavras mágicas’: username e password… ligo ao André. Não atende. Desisto. Decido ir para a cozinha onde tenho a MINHA televisão que é a única da casa que funciona à antiga: um botão para ligar, dois botões para mudar de canal e mais outros dois para ajustar o volume. O suficiente para que eu possa vaguear entre os primeiros cincos canais sem uma luta titânica com o Hdmi1, o Hdmi2, o Hdmi3, o HdmiSide, os Avs, a Box, o comando da Box e um sistema de som xpto com comando próprio que tem a particularidade de estar sempre em parte incerta.

No momento em que desligo o computador, o Tommy, sem desgrudar os olhos do ecrã, pergunta:

“Mãe, nos Estados Unidos há pena de morte não há?”

Imagino que esteja a ponderar quais seriam, no mundo real, as consequências das delinquências virtuais que está a cometer no GTA.  

“Há pena de morte, mas não em todo o lado. Depende da lei de cada estado.”

“Onde é que há pena de morte?”

“Não sei filho. No Texas, por exemplo.”

“E mais?”

“Não sei.”

“Nova Iorque?”

“Nova Iorque só tem perpétua, acho.”

“Achas ou tens a certeza?”

“Já te disse que não sei em que estados e cidades é que há pena de morte. Só sei que são mais os sítios em que ainda é aplicada do que os sítios em que já foi abolida.”

“Em Chicago?”

“Não sei.”

Em Los Angeles?”

“Não sei.”

“Em Miami?”

“Já te disse que NÃO SEI!”

“Detroit?...”

O Ti, que esteve até agora, aparentemente absorto, agitando vigorosamente o seu comando da direita para a esquerda (técnica, segundo ele, para o Sonic ganhar 'velocidade brutal' e que origina com mais frequência do que o desejável o lançamento involuntário do comando contra uma parede) surge em meu auxílio:

“Pára, Tomás! Não insistas! A mãe já te disse o melhor que sabe!”

Eu respiro fundo e sigo para a cozinha. Ligo a televisão para ver o Daily Show. O peso da ignorância impede-me de estar atenta. Pego no telefone. Safari. Google. Wikipedia. "Death Penalty USA". Back. Back. Wikipedia Português. "Pena de morte nos Estados Unidos". O Wi-fi está lento. Definições de rede. Desligar Wi-fi. Activar 3G. Saudades do tempo que os telefones serviam para telefonar e os computadores para trabalhar, jogar videojogos e navegar na net. Mais. Saudades do tempo em que as respostas a quase todas as nossas dúvidas estavam nas prateleiras do escritório, arrumadinhas por ordem alfabética, em dezenas de volumes da saudosa  e infalível Enciclopédia Verbo.


Nota de rodapé:
Graças ao meu filho e ao GTA alarguei ligeiramente o meu "melhor que sei" em relação ao sistema judicial norte americano. Deixo-vos o que aprendi, a título de curiosidade:

“A pena de morte nos Estados Unidos é oficialmente permitida em 36 dos 50 Estados, bem como pelo governo federal. A grande maioria das execuções são realizadas pelos Estados, embora o governo federal mantenha o direito de usar a pena de morte, fazendo isto raramente. Cada Estado que permite a pena de morte possui diferentes leis e padrões quanto aos métodos, limites de idade e crimes que qualificam para esta penalização. Os Estados Unidos da América são o segundo país onde mais pessoas são executadas anualmente; apenas a República Popular da China possui um número maior. A pena de morte é um assunto muito controverso nos Estados Unidos."


Mapa das leis de pena de morte nos Estados Unidos

Azul: sem leis de pena de morte actualmente
                   Laranja: lei de pena de morte declarada inconstitucional
           Verde: Não foram realizadas execuções desde 1976
                Vermelho: Foram realizadas execuções depois de 1976

WIKIPÉDIA, a Enciclopédia livre


Sem comentários:

Enviar um comentário