"Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada... "
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada... "
Hoje somos só três no carro. O Tommy foi com o pai ao pediatra. A
Té e o Ti vão estrategicamente posicionados junto às janelas. A bem da sua
integridade física e da minha sanidade mental é necessário garantir uma distância
de segurança entre os dois, geralmente ocupada pelo mano mais velho. À falta
deste uso as mochilas como barreira.
O Ti está nervoso:
“Não acredito que vou chegar outra vez atrasado, mãe… já
tocou há oito minutos…”
“Pede desculpa ao professor e explica que saímos mais tarde de
casa porque o Tommy está adoentado.”
Suspira, com enfado:
“Levantei-me tão cedo… para nada…”
A Té sorri, maléfica. O desapontamento do irmão ilumina-lhe o
rosto e aquece-lhe a alma, como um raio de sol a rasgar uma manhã cinzenta. Repreendo-a com um
olhar severo através do retrovisor. O Ti continua a medir o atraso:
“Onze minutos…”
“Tem calma rapaz. Se estiveres atento recuperas o tempo perdido.”
“Eu estou sempre atento, mãe.”
“Fazes bem. Se queres ir, como dizes, para a ‘escola dos médicos’
tens de ser um bom aluno.”
“Sim, vou aprender muito e vou ser médico.”
Olho de novo, pelo espelho, para a Té:
“E tu, senhora, queres fazer o quê quando fores crescida?”
Os seus olhitos gigantes brilham antecipando uma resposta que não
sei bem se quero ouvir. Arrisco, em todo o caso:
“Diz lá. Queres fazer o quê?”
“NADA!” – responde com uma gargalhada.
O Tiago olha-a, incrédulo, por entre as mochilas:
“Como é possível, Teresa? Vais andar tantos anos na escola para
depois não fazer nada?”
Ela puxa a chupeta para o canto da boca e cantarola:
“Nada, nada, nada. Eu não qué fazê nada. Eu não vô fazê nada!”
Quanto mais o Ti lhe tenta explicar que ‘fazer nada’ não é
objectivo de vida mais ela ri e diz "nada, nada, nada". Quanto
mais ela ri mais irritado ele fica. Antes de sair do carro ainda me força a chamá-la à razão:
“Estás a ouvir a Teresa, mãe? Não dizes nada?”
“Nada, filho. Já não digo nada. Sai do carro e corre, que já
perdeste vinte minutos de aula. A Té vai depois, comigo. Tem tempo, está mais
que visto.”
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