sábado, 25 de janeiro de 2014

Thank God It's Friday



Quinta-feira. Dez da noite. O Tommy está pronto para regressar às aulas após três dias em casa a curar (mais) uma virose. Dou-lhe as boas-noites e desejo-lhe coragem para enfrentar a chuva e o frio da manhã seguinte.

Deito o Ti e, finalmente, a Té. Noto que está quente. Vou buscar o termómetro que confirma, sem margem para dúvidas,  a minha suspeita.  Deixo-a dar uma corrida pela casa a gritar "NÃO VOU A ECOLA! TOU UENTE! TOU UENTE! QUÉ XAÓPE AZUL!". Dou-lhe o xarope (laranja) que, mesmo não sendo o seu predilecto,  toma com um entusiasmo preocupante.

Sexta-feira. Três da tarde. Chega a notícia de que o Tommy se lesionou na aula de educação física e está no Hospital da Arrábida para fazer um raio-X. Quatro da tarde. O ortopedista analisa o raio-X enquanto o Tommy lhe descreve o incidente "...corria com a bola junto à linha quando sofri uma carga de ombro e bati contra o muro com o cotovelo... ". O médico diz que não há nada partido. Braço ao peito, gelo e anti-inflamatório durante um par de dias deverão ser suficientes para resolver o assunto. O Tommy solta o animal social que há em si e partilha o que lhe vai na alma. Lamenta não poder ir ao treino de hoje e ao jogo de amanhã. Lamenta não poder ensaiar o "Yesterday" dos Beatles  para uma apresentação que vai fazer na próxima semana. Constata (sem qualquer lamúria, saliente-se) que vai ser difícil fazer os trabalhos de casa. Não fosse eu a arrastá-lo do consultório e a conversa ter-se-ia estendido tarde adentro.

Sexta-feira. Nove da noite. O serão está ser um caos. A Glória, que deve ter andado novamente a comer atacadores de sapatilhas, vomitou no chão da sala.  A Té está a aproveitar o estatuto de enferma para não tocar na comida e fazer uma cena feia à mesa destilando todo o seu mau feitio para cima dos rapazes.

O barulho é ensurdecedor: "MÃE, OLHA A TERESA!", "MÃE, ÓIA O TIAGO", "CUIDADO COM O MEU BRAÇO!", "MÃE, A TERESA NÃO COME E ESTÁ A ATIRAR MASSA!", "MÃE, A TERESA MORDEU-ME!", "TU BATÊTE PIMEIO!", "NÃO BATI NADA!", "MÃÃÃÃÃEEEEEE!!!"

Sinto a cabeça a estoirar. Enquanto apanho os pedaços de fusilli à volta da cadeira da Té digo-lhe que está a ser MUITO, MUITO feia. Fica ainda mais desvairada:

"NÃO SÔ FEIA! SÔ MONITA!"

Agarro-a por um braço e levo-a à casa de banho para se ver ao espelho e me dizer se há algo de bonito naquela menina chorosa, desgrenhada, coberta de pedaços de massa. Ela acha que sim.

O Ti assoma à porta e exclama:

"Mãe! Estou a sentir-me mal!"

Boa, só faltava mesmo esta...

"Que é que sentes? Estás enjoado? Dói-te a barriga?"

Abana a cabeça negativamente.

"Então? Estás a sentir-te mal porquê?"

"Estou a sentir-me mal com isto tudo. Tu irritada, a Teresa a chorar..."

A Té pára instantaneamente com a birra e encosta-se ao irmão. O Tommy, que tinha vindo atrás do Ti, abraça-os com o braço que tem livre. Nada como me verem virada do avesso para esquecerem as suas arquiinimizades e se transformarem num conjunto enternecedor de meninos. Olho-os assim, caladinhos, agarradinhos, com um sorriso seráfico e sinto-me culpada por me ter irritado tanto.  

Sexta feira. Dez e meia da noite. Leitinho, xaropes, um beijinho a cada um. Tudo está bem quando acaba bem.

Sábado. Dez e meia da manhã: "MÃE, OLHA A TERESA!", "MÃE, ÓIA O TIAGO", "CUIDADO COM O MEU BRAÇO!", "MÃE, A TERESA NÃO COME O CHOCAPIC!", "MÃE, A TERESA MORDEU-ME!", "TU BATÊTE PIMEIO!", "NÃO BATI NADA!", "MÃÃÃÃÃEEEEEE!!!", "MÃÃÃÃÃEEEEEE!!!", "MÃÃÃÃÃEEEEEE!!!", "MÃÃÃÃÃEEEEEE!!!"

Sem comentários:

Enviar um comentário