A expressão “trabalhos de casa, só com uma arma apontada” ganhou
ontem, por estas bandas, toda um nova dimensão. A saber:
“Meninos, são quase horas de dormir. Terminaram os tpc? Têm tudo
pronto para amanhã?”
O Tommy acena afirmativamente. O Tiago, agarrado ao comando da Wii,
faz de conta que não me ouviu.
“Ti, fizeste os trabalhos de casa todos?”
“Oh mãe… agora que eu ia começar um jogo…”
Se num dia normal uma resposta destas já me enerva, num domingo à
noite (momento da semana em que os meus níveis de serotonina estão muito para lá
dos mínimos recomendados) provoca-me uma reacção histérica. Nada como me verem
a estrebuchar para se esgueirarem rapidamente para os quartos quais ratinhos
assustados. A Té costuma regressar passados uns vinte segundos não só porque ainda
não tem trabalhos de casa para fazer nem sacos para preparar mas também porque é,
de longe, a que me tem menos respeito. Desta vez não regressa. Decido ir
espreitá-los. O Tommy está a preparar o que supostamente já estava preparado. O
Ti está sentado à secretária, com cara de vítima, a fazer um crucigrama. A Té
está em cima da cama do Ti, de G3 em punho, apontada ao irmão.
“Que é que se passa aqui?”
Sem levantar os olhos do livro, o Ti esclarece-me:
“É a minha irmã que é parva.”
A Té aproxima um pouco mais a arma.
“Não sô pava. Sô a polícia dos tabaios. Se não fizeres o tabaio
dou-te um tiro.”
“Teresinha, obrigada pela ajuda, mas isso não se faz.”
Encosta a G3 ao ombro. Tem o cabelo desgrenhado e a cara suja. Não
parece uma polícia, parece uma guerrilheira colombiana. Sorri e pisca-me o olho:
“Tou a bincá, mamã. Não posso dispará… ito nem tem balas!”
Esperta demais!
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