Presentes do dia da mãe. O Tommy oferece-me um cartão com um lindo
poema. Não vá eu convencer-me de que o meu filho mais velho está a ficar
lamechas, recita o poema em ritmo hip-hop. O Ti fez um elaborado trabalho de
pintura e colagem com motivos florais para eu colocar na parede. A Té memorizou
duas quadras dedicadas à mãe e diz-mas em surdina, ao mesmo tempo que me estende, com orgulho, uma
moldura decorada com flores de papel colorido.
“Adorei as vossas surpresas, meus queridos. Obrigada.”
Sorriem, satisfeitos.
“Ainda bem que gostaste. O meu, pelo menos, deu muito trabalho”, diz o Ti enquanto observa com um ar sobranceiro a moldura da Té. Um olhar
ameaçador do irmão impede-o de abrir a boca para tecer algum comentário menos
simpático.
Inibido de criticar a menina só-porque-é-pequenina aponta as
baterias para cima:
“O Tomás podia ter usado várias cores para escrever o poema dele. Tinha
ficado muito mais giro.”
“Só tive quarenta minutos…”
“Se tivesses alinhado os lápis todos à tua frente, ias pegando num
de cada vez, e escrevias uma palavra de cada cor. Era rápido.”
“Não se iam ler tão bem as palavras…”
“Talvez, se usasses o amarelo clarinho. Esse já se sabe que só
serve para pintar o sol.”
“Preferi assim.”
“Preferiste mal.”
Peço-lhes que não comecem a discutir. Digo-lhes que gosto dos seus
trabalhos independentemente da quantidade de cores ou enfeites que cada um teve
oportunidade de utilizar. Explico-lhes que o importante é o carinho e o esforço
que lhes dedicaram. Já devia ter aprendido que há momentos em que o melhor é
estar caladinha:
“O meu foi o mais chato de fazer porque tive de fazer pintinhas
nas pétalas, pintar os ramos, colar as folhinhas, colar as pedrinhas…”
“Ouve cá, achas que fazer um poema é fácil?”
“Não. Fazer um poema é chato. Mas as minhas flores foram muito
mais chatas de fazer. Tive de fazer pintinhas nas pétalas, pintar os ramos, colar…”
“A MIA MÓDURA TAMÉM FOI CHATA!”
“A tua moldura é simples.”
“É CHATA!”
“AS MINHAS FLORES SÃO AS MAIS CHATAS!”
Deixei-os a disputar o grau de chatice das suas obras enquanto as fui guardar no meu quarto. Três pedacinhos de amor dos meus meninos que vão ficar comigo para sempre. Valeu o esforço, miúdos. Sou uma mãe cheia de sorte.
Sem comentários:
Enviar um comentário