Ele entrou
no quarto, com a sua cara fechada e os olhos meigos escondidos sob as
fartas sobrancelhas. Sentou-se na borda da cama e afagou a dobra do lençol
branco. Lançou um olhar zangado ao termómetro, às gotas e aos xaropes dispostos em cima da mesinha de cabeceira.
“Outra vez
doente?”
“Sim, avô.
Mas não te preocupes, é só (mais) uma amigdalite. Daqui a uns dias volto para a
escola.”
Não fossem
as palavras que se seguiram e este episódio não se teria mantido vivo até hoje
na minha memória, tantas eram as vezes que eu estava de cama e recebia a sua visita. Chegava sem pressa, com o jornal debaixo do braço. Fazíamos juntos as palavras cruzadas. Nessa manhã, pegou-me na mão e, com a candura e a honestidade que só
ele tinha, constatou:
“Tu não
prestas rapariga, tu não prestas…”
O meu avô Delfim tinha razão. Tivesse nascido no seu tempo e não tinha chegado à idade adulta. O meu avô não viveu para me ver casar com o homem da minha vida, também ele pouco resistente a gripes e constipações. Não viveu para conhecer três lindos bisnetos que não escaparam à carga genética e são infalivelmente vencidos pela primeira aragem fria de outono. Que pena tenho, avô, de não te ter por cá para te ouvir dizer-lhes com ternura "vocês não prestam rapazes, vocês não prestam."
O meu avô Delfim tinha razão. Tivesse nascido no seu tempo e não tinha chegado à idade adulta. O meu avô não viveu para me ver casar com o homem da minha vida, também ele pouco resistente a gripes e constipações. Não viveu para conhecer três lindos bisnetos que não escaparam à carga genética e são infalivelmente vencidos pela primeira aragem fria de outono. Que pena tenho, avô, de não te ter por cá para te ouvir dizer-lhes com ternura "vocês não prestam rapazes, vocês não prestam."
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