As plantas não têm vida fácil cá em casa. O nosso pequeno ecossistema
doméstico apresenta gravíssimas falhas no que toca à flora. Eu esforço-me, juro
que me esforço, mas a coisa corre sempre do mesmo modo:
Chegada de planta linda e resplandecente → diminuição gradual de
flores e folhas → transformação dos caules em pequenas estacas secas → morte ou
partida de planta moribunda para casa de uma das avós → regresso de planta
recuperada → diminuição gradual de flores e folhas → transformação dos caules
em pequenas estacas secas → morte ou nova partida para reabilitação.
Há quem diga que é água a mais, há quem diga que é água a menos. Há
quem diga que é a luz. Eu não sei que diga. Há muito que já desisti de comprar plantas
de interior e me rendi às SMYCKAs e FEJKAs que custam até 4,99€ e duram uma vida
inteira.
Sedenta de flores naturais mas consciente das minhas limitações decidi
dedicar-me exclusivamente a plantas de exterior (por si só mais resistentes a
todo o tipo de mau trato ou negligência). Palavras da senhora do horto “Num tem
que saber menina, água quanto baste, luz quanto baste, dá-lhe flor duas bezes ó
ano”. Contra as minhas expectativas lá o consegui. O difícil foi o ‘duas vezes
ao ano’ por mais do que um ano. O verão mostrou-se sempre implacável com as
minhas azáleas obrigando-me, todos os anos, a regressar ao horto e a comprar novas plantas e novos sacos de terra para restituir a frescura e a cor
às áridas floreiras da varanda. Até este ano. Era fim de tarde. Tinha chovido. O
céu estava tingido em tons violeta e alaranjado. Eu estava debruçada na janela
da cozinha a tirar a roupa molhada do estendal quando a vi. Linda. Carregada de cor. Um rasgo de alegria por entre as folhas tristonhas e as ervas daninhas.
“Meninos!!! Venham ver! As azáleas da varanda estão a florir!”
Vieram. Olharam as floreiras. Olharam-me de volta com condescendência. Percebo-os. Era só uma flor minúscula. Uma flor minúscula, aparentemente insignificante, que eu sabia ser a
primeira de muitas que viriam a desabrochar. Assim foi. Pela primeira vez, a minha varanda ganhou vida com a chegada do outono. O mérito não foi meu, eu sei. O mérito foi do verão que não existiu. O mérito foi dos dias cinzentos que nos fizeram ficar
em casa quando queríamos ir à praia. Mas, o que lá vai lá vai e lá que as azáleas
estão um encanto, lá isso estão.
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