Somos do Porto desde pequeninos. Todos, sem excepção nem
alternativa. Opções clubísticas não se dão a escolher por estas bandas. Nasceu,
é do FCP. Certidão do Registo Civil em mão, venha daí o cartão do Clube.
Para os mais novos, ser do FCP não é, definitivamente, difícil. A
última década foi plena de vitórias. Mas há anos melhores e anos piores. Este
não tem sido brilhante. O desfecho vermelho do campeonato começou a
vislumbrar-se e as expectativas foram esmorecendo. Mas, mesmo depois do jogo
com o Marítimo, o Tommy manteve a fé: “…vão perder pontos com o Estoril, depois
levam uma abada do Chelsea e no fim espalham-se com o Guimarães…vão passar do
‘tripleto’ ao ‘zereto’. Eu acredito.”
Eu, pessoalmente, não tinha qualquer esperança. Até ao jogo de
segunda-feira.
Estamos em casa dos avós. Golo do Estoril. O Tommy explode de
alegria, como se tivesse acabado de ganhar uma Final Europeia. Grita, atira-se
para o chão, salta por cima dos sofás e corre porta fora a gritar a plenos
pulmões “POOOOORTOOOOO” a quem queira ouvir num raio de 500m. Nestas alturas
não tenho grandes dúvidas: o André conseguiu criar um ‘monstro’.
“Golo do Pôto?”– pergunta a Teresinha, confundida, olhando para
televisão à procura de um equipamento azul.
“Não, minha querida, golo do Estoril. Mas é bom para o Porto.”
Não me parece muito convencida mas aceita e sorri:
“Golo bom J”
“Isso mesmo, golo bom! Golo muito bom! Agora vai brincar com a avó que isto vai
ser um stress até ao final…”
Trinta minutos, que pareceram duas horas, até à confirmação de que
o prognóstico do Tommy estava certo. Dois míseros pontinhos permitem-nos voltar
a sonhar com o título. Até o Tiago, que (apesar de estar cacetado o suficiente
para dizer que o Porto é o melhor do mundo) não liga nada à bola, está feliz.
Apito final. O pai liga da fábrica e limita-se a gritar:
“MAMÓÓÓÓÓ". O Tommy já está de novo na rua pronto a saltar para o banco da
frente do carro do avô: “Vamos buzinar, vamos buzinar!!!”
Lá fomos todos, rasgando o silêncio das ruas vazias e escuras,
comemorando a hipótese de ainda-podermos-vir-a-ser-Campeões. E uma coisa é
certa: a alegria desse momento já ninguém nos tira.
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