segunda-feira, 28 de outubro de 2013

“Shallow men believe in luck or in circumstance. Strong men believe in cause and effect.” *




Final de Outubro. Abertura oficial da caça à gripe e à constipação.

“Mãe… dói-me a garganta…”

“Estás um bocadinho quente… abre lá a boca e diz ‘háááááá’…”

“‘hááááááááá’….. pontos brancos?”

“Yep. Não vais poder ir às aulas. Como é que é que é possível estares doente outra vez?”

Esboça um leve sorriso e faz a pergunta de sempre:

“E o treino?”

“Esquece o treino.”

O mundo não é, definitivamente, um lugar justo. Dá meia volta e segue para o quarto. Pelo caminho agarra um Astérix. Se não há hora para levantar também não há hora para dormir.

A Té, que está com tosse, passeia-se em redor das minhas pernas na esperança de ouvir um “também ficas em casa”. Faço-lhe uma festinha na cabeça e desmonto-lhe a expectativa:

“Vamos lá tomar o xarope, beber o leitinho e dormir, que amanhã há colégio.”

O Tiago, não tendo ainda sentido qualquer sintoma premonitório de uma segunda-feira chuvosa passada no aconchego do lar, já tem a mochila e o casaco estacionados no hall de entrada e está de pijama no sofá a aguardar resignadamente o toque de recolher.

“Tiago…”

“Sim, mãe…”

“Tens tudo na mochila? Que papel é este a dizer 'soletração'?"

“Era para treinar, mas já não preciso.”

“Treinar para quê?”

O Tommy ouve ao longe a conversa e aparece a correr:

“Soletração? Vi um grande cartaz no colégio sobre um concurso de soletração. Pensei que era para os crescidos dizerem aquelas palavras difíceis tipo otorrinolaringologista… afinal é para o primeiro ciclo? Estás a participar, Ti?”

O Tiago acena afirmativamente. Sem tirar as mãos (e o os olhos) do iPad, diz num tom desinteressado:

“Sim, estou a participar. Vou à final, amanhã. Ainda bem que falas nisso. Já me ia esquecer de avisar a mãe que tenho de levar gravata. Mããããeee! Preciso da gravata!”

Hoje, à saída do carro, depois de lhe dar um jeitinho ao nó da gravata abracei-o com força:

“Vai correr bem, meu querido. Tem calma e… boa sorte!”

Sorriu-me, com aquele seu sorriso condescendente:
   
“Obrigado mãe, mas eu não preciso de sorte. Sei que não me vou enganar.”

Fiquei ao portão, à chuva, a vê-lo, qual homenzinho em miniatura, arrastando o seu trolley do 'Dusty' até desaparecer para o interior do edifício. Boa sorte, meu amor, boa sorte.



(*) Ralph Waldo Emerson


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