sexta-feira, 25 de outubro de 2013

VagaMundices


A convite da Luísa do Diário da Pikitim, respondemos ao questionário Família Vagamundos. Aqui ficam as declarações, para memória futura.
Nome: Joana Neves da Silva
Idade: 36
Profissão: Engenheira Civil, embora não exerça desde 2011. Actualmente assumo um cargo de gestão numa central de compras.
nº de filhos: 3
Idades: 3, 6 e 10
Destino de sonho: Austrália
Filme preferido: Aquele que é para mim o mais sublime retrato da natureza humana e da força dos laços familiares: “The tree of Life” de Terrence Malick.
Livro de viagem preferido: Um livro brilhante e avassalador sobre a dura viagem de milhares em busca de uma vida melhor: “As vinhas da ira” de John Steinbeck.

Quando te falam em viajar com crianças, qual é a primeira coisa que te vem à cabeça?

Férias. O único momento do ano em que temos oportunidade para viajar. Viajamos pouco mas quando o fazemos levamos os miúdos connosco.

O que achas que é o melhor de viajar com os filhos?

Em viagem estamos livres das preocupações quotidianas que nos transformam sistematicamente nos ‘chatos de serviço’. Em férias somos ‘mais pais’ e ‘menos educadores’ e isso é muito bom para todos.

E o pior? Ou o mais difícil?

A logística inicial. Na véspera de arrancarmos para algum lado tenho sempre a sensação de que levamos tralha a mais, de que ainda assim vai faltar imensa coisa, de que tudo pode correr mal. Após o ‘tiro de partida’ começamos a descomprimir. No final do primeiro dia sentimo-nos em casa onde quer que estejamos.

Qual foi a primeira viagem que fizeste com os teus filhos? Tinham que idades?

O Tomás foi connosco à Republica Dominicana com 2 anos. A primeira viagem grande do Tiago foi também à Republica Dominicana, tinha na altura 12 meses e o Tomás 5 anos. A Teresa teve a sua estreia este verão (com 3 anos) numa viagem de auto-caravana em que passámos por Espanha, França e Itália.

Quantas semanas andaram na estrada? O que é que os miúdos gostaram mais?

Tudo começou com um convite de uma amiga para um casamento em Porto Venere em Setembro. Nunca tínhamos ouvido falar de Porto Venere… a noiva explicou-nos que ficava perto de La Spezia, que, por sua vez, ficava perto de Génova. Explicou-nos que era património mundial da Unesco. Mostrou-nos fotografias: uma igrejinha junto ao mar no topo de uma colina… um cenário digno de filme. Lindo. Não podíamos deixar de ir. Não queríamos ir sem os miúdos. Não queríamos arruinar as nossas férias de Verão… encontrámos uma solução: transformar o evento no destino final de uma viagem de autocaravana. O Algarve estará no mesmo sítio à nossa espera no próximo ano. Casamentos “Mamma Mia” acontecem uma vez na vida.
Alugámos uma ‘Family Plus’ por duas semanas. Fomos buscá-la na véspera da partida. Vinha em bruto, como um apartamento vazio. Equipámo-la com louça, talheres, lençóis, toalhas, almofadas e cobertores. Guardámos a roupa directamente nos armários. Enchemos o frigorífico e o congelador. Aprendemos a atestar e a esvaziar os depósitos, a ligar e desligar a alimentação eléctrica, a ligar e desligar o gás, a abrir e fechar o toldo, a montar e desmontar o apoio das bicicletas. Sentíamo-nos seguros e preparados? Nem por sombras.
Manda a prudência que quem nunca tenha guiado nada que se assemelhe a uma autocaravana faça um pequeno percurso no primeiro dia, a título de treino. Fomos até Biarritz. Nessa noite os miúdos já chamavam ‘quarto do Tomás’ ao beliche de cima e ‘cozinha’ aos 0,8m2 onde estava o fogão e a banca. A ‘ótocaravana’ (segundo o Ti) ou ‘vavana’ (segundo a Té) tinha sido plenamente aprovada. Estávamos prontos para os restantes 4.000Km.
Seguiu-se Paris. Depois a Disney. Delírio absoluto. A Té viu a Rapunzel acenar-lhe ao vivo e a cores o que lhe permitiu passar o resto da viagem a dizer com um ar sobranceiro que “era amiga da Pél”. Os rapazes ultrapassaram os seus maiores receios aventurando-se nas mais assustadoras das diversões. Eu e o pai demos cabo das costas a acompanhar os rapazes.
Disney para trás, seguimos para o Monte Branco. Ficámos dois dias em Chamonix num parque fantástico de onde, ao final da tarde, víamos o sol a banhar com um laranja morno o topo gelado das montanhas. Baterias carregadas, partimos para Itália. Desordenamento de território, trânsito caótico, inexistência de sinalização, taxistas loucos, uma barulheira infernal no parque até às tantas da manhã… “welcome back to South Europe”!
As terrinhas das fotografias não defraudaram as nossas expectativas. A Unesco tem razão. A região é mesmo muito bonita.
O casamento foi de sonho.
De La Spezia arrancámos para a Côte d’Azur. Quase duzentos túneis e outros tantos viadutos depois, chegámos a St.Tropez, terra de iates, veleiros, Ferraris e lojas de luxo. Dali seguimos para Espanha. Em Tarragona fizemos o último dia de praia das férias, enquanto as aulas arrancavam por cá. O melhor primeiro dia de aulas de sempre, segundo os miúdos.
Regressámos, sãos e salvos. Ainda dormimos na autocaravana mais uma noite, estacionados à porta de casa. Nenhum de nós queria deixar aquele espaço com rodas que já sentíamos como lar. Ridiculamente pequeno mas incrivelmente suficiente.

As viagens são programadas com muita antecedência? Quais são as prioridades e as preocupações tidas em conta no planeamento?

Nunca fazemos planos com demasiada antecedência, até porque a experiência nos diz que quanto maior a antecedência, maior a probabilidade do plano sair furado.

Já viveste algum susto, já houve algum contratempo em viagem?

Em 2006, na véspera de arrancarmos para Cuba, o Tomás (na altura com 3 anos) ficou com varicela. Com o aval do pediatra, umas doses de zovirax e atarax e um garrafão de protector solar 350, partimos e acabou por correr tudo bem.

Viajavas mais vezes antes de teres filhos? Com que frequência viajas agora?

Naturalmente. O tempo é escasso e viajar com três crianças é muito caro. Hoje em dia fazemos, no máximo, uma viagem por ano.

O que acreditas que vai ficar mais a memória das crianças após uma viagem?

Viajar ajuda-as a crescer. Conhecem outras realidades, abrem novos horizontes. No que toca às ligações familiares as viagens contribuem muito para a união do clã. A vida não é mais do que um acumular de momentos e sentimentos. As memórias são a estrutura na qual nos vamos erguendo e são elas que nos transformam no que somos. As viagens fazem parte dessa estrutura e tornam-na mais sólida e mais ampla.

Que dica ou conselhos podes partilhar com quem esteja a pensar em viajar com os filhos?

Verificar com antecedência toda a documentação necessária. Não lhes criar grandes expectativas, para que não corram o risco de ficar desiludidos. Não ter um plano demasiado rígido pois eles darão cabo dele. Levar uma mala com anti-piréticos, anti-inflamatórios, anti-micóticos, anti-diarreicos, anti-alérgicos e material de primeiros socorros. Levar livros e gadgets para as horas de viagem. Este ano o pai teve a ideia de fazer um ‘road bingo’: imprimimos grelhas com imagens de sinalização de trânsito, marcas de automóveis, pontes, viadutos, túneis, monumentos. Cada um ia registando o que via no seu cartão, até fazer linha e bingo (nota: se passarem pelo sul de França não se esqueçam de ter o símbolo de túnel em todos os cartões caso contrário têm sempre alguém derrotado à partida).

Qual é o vosso próximo destino?

O destino o dirá.

1 comentário:

  1. Obrigada, Joana!
    Foi mesmo muito bom ler as vossas aventuras. E já adoptei o "road bingo" que vocês inventaram...
    beijinhos e boas viagens

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