segunda-feira, 7 de julho de 2014

Friday i'm in love



Sexta-feira. Nove e meia da noite. Saio da ginástica sem poder com uma gata pelo rabo. O menor dos meus problemas, já que a minha gata faz questão de não me deixar pegar-lhe, e dadas as tarefas que ainda estão pela frente: ir buscar os meninos a casa dos avós, carregar meninos e tralhas dos meninos para o carro, do carro para o elevador e do elevador para casa, enfiar os meninos mais novos na banheira, gastar um mês de vida a convencê-los a sair de lá, gastar outro mês a explicar ao mais velho que “banho agora” ou “banho amanhã de manhã” não é a mesma coisa, tentar impedir os rapazes de começarem a jogar o que quer que seja às onze da noite, colar cromos e fazer pulseiras de elásticos com a Té enquanto os mais velhos jogam aquilo que não os consegui impedir de jogar, arrastá-los para o meu quarto, contar uma história, ver um pedaço do Frozen, ver um pedaço do Lego, ver um pedaço do Chicago Fire, fazer o transbordo da bela e dos belos adormecidos da minha para as suas camas, tomar banho, secar o cabelo, estender uma (ou duas) máquinas de roupa, varrer a areia do chão da casa de banho, desligar luzes e aparelhos, enviar uma (ou duas) sms ao André a cobrar-lhe o facto de ter ido jantar fora, sentar-me finalmente no sofá, gastar dez minutos a escolher um filme, adormecer passados outros dez. Vá que é sexta.

Assim que entro em casa dos meus pais percebo que o simples acto de os tirar dali se reveste hoje de um grau de dificuldade extra uma vez que o Tommy está no pátio, com uma brazuca nos pés, empenhado em "fazer a-melhor-finta-de-sempre" e o Ti está incumbido de filmar a mesma para memória futura. Estimo que se sucedam cento e cinquenta quase-melhores-fintas-de-sempre filmadas de vários ângulos. Vale-me a confiança (cega) que tenho na incapacidade da bateria do iPhone de chegar à vigésima filmagem. Decido ir pegando na Té que está refastelada no colo do avô a jogar qualquer coisa no telemóvel da avó.

“Té, vamos lá calçar as sapatilhas, temos de ir embora.”

“Espera mamã. Tou a xogar ête xogo.”

Arregalo-lhe os olhos. Está ao colo do avô e isso confere-lhe uma inegável superprotecção em relação aos meus olhares lancinantes. Sorri e faz a sua proposta:

“Quando perdê, tá bem?”

“E se não perderes?”

Bate com os joelhos um no outro, encolhe os ombros, enrosca-se um bocadinho mais nos braços do meu pai e diz-me, lenta e docemente, como que explicando algo mesmo muito simples a alguém mesmo muito burro:

“Se não perdê… ganho.”

Não sei se ganhou ou perdeu mas não houve avô que lhe valesse no momento em que decidi agarrá-la e levá-la para o carro. Pelo caminho arrastei o Neymar e o Scorsese comigo. Ainda estou para ver como ficou o vídeo. Se for mesmo a-melhor-finta-de-sempre, eu depois mostro.

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