O início de cada ano lectivo faz-nos mergulhar na problemática das actividades extra. A coisa desenvolve-se mais ou menos assim, em dez passos:
Primeiro passo: perguntar aos miúdos quais são as actividades em que se querem inscrever.
Segundo passo: explicar aos miúdos que as variáveis horário, preço e vagas interferem de um modo mais ou menos efectivo na sua escolha.
Terceiro passo: chegar a um consenso. Este passo tem uma duração média de três a quatro dias.
Quarto passo: preencher o formulário de inscrição.
Quinto passo: corrigir o formulário de inscrição em função de mudanças de opção de última hora.
Sexto passo: lembrar à Té que, neste momento, escusa de chegar à conclusão que afinal nasceu para a informática, para o judo e para a ginástica acrobática pois vai ser inscrita no xadrez, na natação e no ballet.
Sétimo passo: submeter o formulário.
Oitavo passo: aturar o choro da Té (porque já me disse mil vezes que não quer ir para a natação e "eu não quis saber da sua vida e inscrevi-a sem a sua autorização") e mostrar-lhe que quero, sim, saber da sua vida, razão pela qual, enquanto não tiver a certeza de que ela se aguenta bem à tona de água, a natação não é opcional mas obrigatória.
Nono passo: receber um email do colégio a confirmar, em função das vagas e horários disponíveis, as actividades que os miúdos vão frequentar.
Décimo passo: informar os miúdos das actividades em que ficaram colocados. Ignorar as queixas da Té.
Este ano o Ti ficou fora do órgão por falta de vagas e fora do xadrez por ser à mesma hora do futebol.
O xadrez não me preocupou. Quanto ao órgão, insisti com o colégio para que tentasse a todo o custo arranjar uma vaga.
As semanas passaram-se sem que chegasse o bendito email a confirmar que a vaga tinha surgido. Não só por termos gasto dinheiro num órgão mas essencialmente por achar que faz bem ao rapaz desenvolver a sua veia musical (e também, confesso, por estar a ficar farta do repertório actual que não vai muito além do "Balão do João" e do "Noite Feliz") voltei a enviar um email, desta feita ao professor principal. A resposta foi quase imediata transmitindo-me que o Ti está a frequentar a actividade desde o inicio do mês!
Tiago Manuel, obrigadinha por me fazeres fazer figura de ursa.
Ligo ao Tommy para confirmar se o professor não estará enganado.
"Olá mãe, tudo bem?"
"Tudo mais ou menos. Queria confirmar se sabes se o teu irmão tem ido às aulas de órgão."
"O quê? Não percebi o que disseste. Está muito barulho aqui. Podes repetir?"
"Não devias estar na sala de estudo?"
"Não ouço. Vou para outro sítio."
Falar com o Tomás ao telefone é sempre assim.
Insisto:
"Queria confirmar se sabes se o teu irmão tem ido às aulas de órgão!"
"O meu irmão o quê?"
"ÓRGÃO! O TIAGO TEM IDO AO ÓRGÃO?"
"Ah... o órgão. Não sei."
"Ando eu aqui a chatear toda a gente por causa da vaga no órgão e recebi agora um e-mail do Professor do Ti a dizer que ele está nas aulas..."
"Desculpa mãe, não ouvi bem. O Professor do Tiago disse o quê? Espera..."
E desliga-me o telefone.
Desisto. Falo com eles quando chegar a casa.
Liga-me de volta passados dois minutos.
Respiro fundo para aguentar mais uma série de "o quê", "não ouço" e "repete por favor". Agarro o telefone e, no meu melhor sotaque serrano, grito:
"TOU XIIIIIM!!"
(quem não se lembra do anúncio da Telecel?)
Há um estranho silêncio do lado de lá da linha. Antes que eu tenha oportunidade de repetir a graça, ouço um tímido:
"Boa tarde, fala o professor André..."
Depois de me confirmar que está tudo em ordem com as aulas de órgão do Tiago, o professor devolve o telefone ao Tomás que, entre risos, me faz saber que o meu "TOU XIIIM" se ouviu num raio de alguns metros.
Obrigadinha Tiago, por me fazeres fazer figura de ursa... duas vezes.
Primeiro passo: perguntar aos miúdos quais são as actividades em que se querem inscrever.
Segundo passo: explicar aos miúdos que as variáveis horário, preço e vagas interferem de um modo mais ou menos efectivo na sua escolha.
Terceiro passo: chegar a um consenso. Este passo tem uma duração média de três a quatro dias.
Quarto passo: preencher o formulário de inscrição.
Quinto passo: corrigir o formulário de inscrição em função de mudanças de opção de última hora.
Sexto passo: lembrar à Té que, neste momento, escusa de chegar à conclusão que afinal nasceu para a informática, para o judo e para a ginástica acrobática pois vai ser inscrita no xadrez, na natação e no ballet.
Sétimo passo: submeter o formulário.
Oitavo passo: aturar o choro da Té (porque já me disse mil vezes que não quer ir para a natação e "eu não quis saber da sua vida e inscrevi-a sem a sua autorização") e mostrar-lhe que quero, sim, saber da sua vida, razão pela qual, enquanto não tiver a certeza de que ela se aguenta bem à tona de água, a natação não é opcional mas obrigatória.
Nono passo: receber um email do colégio a confirmar, em função das vagas e horários disponíveis, as actividades que os miúdos vão frequentar.
Décimo passo: informar os miúdos das actividades em que ficaram colocados. Ignorar as queixas da Té.
Este ano o Ti ficou fora do órgão por falta de vagas e fora do xadrez por ser à mesma hora do futebol.
O xadrez não me preocupou. Quanto ao órgão, insisti com o colégio para que tentasse a todo o custo arranjar uma vaga.
As semanas passaram-se sem que chegasse o bendito email a confirmar que a vaga tinha surgido. Não só por termos gasto dinheiro num órgão mas essencialmente por achar que faz bem ao rapaz desenvolver a sua veia musical (e também, confesso, por estar a ficar farta do repertório actual que não vai muito além do "Balão do João" e do "Noite Feliz") voltei a enviar um email, desta feita ao professor principal. A resposta foi quase imediata transmitindo-me que o Ti está a frequentar a actividade desde o inicio do mês!
Tiago Manuel, obrigadinha por me fazeres fazer figura de ursa.
Ligo ao Tommy para confirmar se o professor não estará enganado.
"Olá mãe, tudo bem?"
"Tudo mais ou menos. Queria confirmar se sabes se o teu irmão tem ido às aulas de órgão."
"O quê? Não percebi o que disseste. Está muito barulho aqui. Podes repetir?"
"Não devias estar na sala de estudo?"
"Não ouço. Vou para outro sítio."
Falar com o Tomás ao telefone é sempre assim.
Insisto:
"Queria confirmar se sabes se o teu irmão tem ido às aulas de órgão!"
"O meu irmão o quê?"
"ÓRGÃO! O TIAGO TEM IDO AO ÓRGÃO?"
"Ah... o órgão. Não sei."
"Ando eu aqui a chatear toda a gente por causa da vaga no órgão e recebi agora um e-mail do Professor do Ti a dizer que ele está nas aulas..."
"Desculpa mãe, não ouvi bem. O Professor do Tiago disse o quê? Espera..."
E desliga-me o telefone.
Desisto. Falo com eles quando chegar a casa.
Liga-me de volta passados dois minutos.
Respiro fundo para aguentar mais uma série de "o quê", "não ouço" e "repete por favor". Agarro o telefone e, no meu melhor sotaque serrano, grito:
"TOU XIIIIIM!!"
(quem não se lembra do anúncio da Telecel?)
Há um estranho silêncio do lado de lá da linha. Antes que eu tenha oportunidade de repetir a graça, ouço um tímido:
"Boa tarde, fala o professor André..."
Depois de me confirmar que está tudo em ordem com as aulas de órgão do Tiago, o professor devolve o telefone ao Tomás que, entre risos, me faz saber que o meu "TOU XIIIM" se ouviu num raio de alguns metros.
Obrigadinha Tiago, por me fazeres fazer figura de ursa... duas vezes.