Nome: Joana Neves da Silva
Idade: 36
Profissão: Engenheira Civil, embora não exerça
desde 2011. Actualmente assumo um cargo de gestão numa central de compras.
nº
de filhos: 3
Idades: 3, 6 e 10
Destino
de sonho: Austrália
Filme
preferido: Aquele
que é para mim o mais sublime retrato da natureza humana e da força dos laços
familiares: “The tree of Life” de Terrence Malick.
Livro
de viagem preferido: Um
livro brilhante e avassalador sobre a dura viagem de milhares em busca de uma
vida melhor: “As vinhas da ira” de John Steinbeck.
Quando te falam em viajar
com crianças, qual é a primeira coisa que te vem à cabeça?
Férias. O único momento do ano em que temos oportunidade para
viajar. Viajamos pouco mas quando o fazemos levamos os miúdos connosco.
O que achas que é o melhor
de viajar com os filhos?
Em viagem estamos livres das preocupações quotidianas que nos
transformam sistematicamente nos ‘chatos de serviço’. Em férias somos ‘mais
pais’ e ‘menos educadores’ e isso é muito bom para todos.
E o pior? Ou o mais difícil?
A logística inicial. Na véspera de arrancarmos para algum lado
tenho sempre a sensação de que levamos tralha a mais, de que ainda assim vai
faltar imensa coisa, de que tudo pode correr mal. Após o ‘tiro de partida’
começamos a descomprimir. No final do primeiro dia sentimo-nos em casa onde
quer que estejamos.
Qual foi a primeira viagem que fizeste com
os teus filhos? Tinham que idades?
O Tomás foi connosco à Republica Dominicana com 2 anos. A primeira
viagem grande do Tiago foi também à Republica Dominicana, tinha na altura 12
meses e o Tomás 5 anos. A Teresa teve a sua estreia este verão (com 3 anos)
numa viagem de auto-caravana em que passámos por Espanha, França e Itália.
Quantas semanas andaram na estrada? O que
é que os miúdos gostaram mais?
Tudo começou com um convite de uma amiga para um casamento em
Porto Venere em Setembro. Nunca tínhamos ouvido falar de Porto Venere… a noiva
explicou-nos que ficava perto de La
Spezia, que, por sua vez, ficava perto de Génova. Explicou-nos que era
património mundial da Unesco. Mostrou-nos fotografias: uma igrejinha junto ao
mar no topo de uma colina… um cenário digno de filme. Lindo. Não podíamos
deixar de ir. Não queríamos ir sem os miúdos. Não queríamos arruinar as nossas
férias de Verão… encontrámos uma solução: transformar o evento no destino final
de uma viagem de autocaravana. O Algarve estará no mesmo sítio à nossa espera
no próximo ano. Casamentos “Mamma Mia” acontecem uma vez na vida.
Alugámos uma ‘Family Plus’ por duas semanas. Fomos buscá-la na
véspera da partida. Vinha em bruto, como um apartamento vazio. Equipámo-la com
louça, talheres, lençóis, toalhas, almofadas e cobertores. Guardámos a roupa
directamente nos armários. Enchemos o frigorífico e o congelador. Aprendemos a
atestar e a esvaziar os depósitos, a ligar e desligar a alimentação
eléctrica, a ligar e desligar o gás, a abrir e fechar o toldo, a montar e
desmontar o apoio das bicicletas. Sentíamo-nos seguros e preparados? Nem por
sombras.
Manda a prudência que quem nunca tenha guiado nada que se assemelhe
a uma autocaravana faça um pequeno percurso no primeiro dia, a título de
treino. Fomos até Biarritz. Nessa noite os miúdos já chamavam ‘quarto do Tomás’
ao beliche de cima e ‘cozinha’ aos 0,8m2 onde estava o fogão e a banca. A
‘ótocaravana’ (segundo o Ti) ou ‘vavana’ (segundo a Té) tinha sido plenamente
aprovada. Estávamos prontos para os restantes 4.000Km.
Seguiu-se Paris. Depois a Disney. Delírio absoluto. A Té viu a
Rapunzel acenar-lhe ao vivo e a cores o que lhe permitiu passar o resto da
viagem a dizer com um ar sobranceiro que “era amiga da Pél”. Os rapazes
ultrapassaram os seus maiores receios aventurando-se nas mais assustadoras das
diversões. Eu e o pai demos cabo das costas a acompanhar os rapazes.
Disney para trás, seguimos para o Monte Branco. Ficámos dois dias
em Chamonix num parque fantástico de onde, ao final da tarde, víamos o sol a
banhar com um laranja morno o topo gelado das montanhas. Baterias carregadas,
partimos para Itália. Desordenamento de território, trânsito caótico, inexistência
de sinalização, taxistas loucos, uma barulheira infernal no parque até às
tantas da manhã… “welcome back to South Europe”!
As terrinhas das fotografias não defraudaram as nossas
expectativas. A Unesco tem razão. A região é mesmo muito bonita.
O casamento foi de sonho.
De La Spezia arrancámos para a Côte d’Azur. Quase
duzentos túneis e outros tantos viadutos depois, chegámos a St.Tropez, terra de
iates, veleiros, Ferraris e lojas de luxo. Dali seguimos para Espanha. Em
Tarragona fizemos o último dia de praia das férias, enquanto as aulas
arrancavam por cá. O melhor primeiro dia de aulas de sempre, segundo os miúdos.
Regressámos, sãos e salvos. Ainda dormimos na autocaravana mais
uma noite, estacionados à porta de casa. Nenhum de nós queria deixar aquele espaço
com rodas que já sentíamos como lar. Ridiculamente pequeno mas incrivelmente
suficiente.
As viagens são programadas com muita
antecedência? Quais são as prioridades e as preocupações tidas em conta no
planeamento?
Nunca fazemos planos com demasiada antecedência, até porque a
experiência nos diz que quanto maior a antecedência, maior a probabilidade do
plano sair furado.
Já viveste algum susto, já houve algum
contratempo em viagem?
Em 2006, na véspera de arrancarmos para Cuba, o Tomás (na altura
com 3 anos) ficou com varicela. Com o aval do pediatra, umas doses de zovirax e
atarax e um garrafão de protector solar 350, partimos e acabou por correr tudo
bem.
Viajavas mais vezes antes de teres filhos?
Com que frequência viajas agora?
Naturalmente. O tempo é escasso e viajar com três crianças é muito
caro. Hoje em dia fazemos, no máximo, uma viagem por ano.
O que acreditas que vai ficar mais a
memória das crianças após uma viagem?
Viajar ajuda-as a crescer. Conhecem outras realidades, abrem novos
horizontes. No que toca às ligações familiares as viagens contribuem muito para
a união do clã. A vida não é mais do que um acumular de momentos e
sentimentos. As memórias são a estrutura na qual nos vamos erguendo e são elas
que nos transformam no que somos. As viagens fazem parte dessa estrutura e
tornam-na mais sólida e mais ampla.
Que dica ou conselhos podes partilhar com
quem esteja a pensar em viajar com os filhos?
Verificar com antecedência toda a documentação necessária. Não
lhes criar grandes expectativas, para que não corram o risco de ficar
desiludidos. Não ter um plano demasiado rígido pois eles darão cabo dele. Levar
uma mala com anti-piréticos, anti-inflamatórios, anti-micóticos, anti-diarreicos,
anti-alérgicos e material de primeiros socorros. Levar livros e gadgets para as
horas de viagem. Este ano o pai teve a ideia de fazer um ‘road bingo’:
imprimimos grelhas com imagens de sinalização de trânsito, marcas de
automóveis, pontes, viadutos, túneis, monumentos. Cada um ia registando o que
via no seu cartão, até fazer linha e bingo (nota: se passarem pelo sul de
França não se esqueçam de ter o símbolo de túnel em todos os cartões caso
contrário têm sempre alguém derrotado à partida).
Qual
é o vosso próximo destino?
O destino o dirá.